segunda-feira, 23 de novembro de 2009

LECTINA LIGANTE DE MANOSE PODE FACILITAR A REMOÇÃO DE IMUNO-COMPLEXOS CIRCULANTES – IMPLICAÇÕES DE UM ESTUDO COM INDIVÍDUOS DEFICIENTES EM C2.

RESUMO

A deficiência de ambos a lectina ligante de manose (MBL) e componentes C4 e C2 do complemento tem sido associada com o risco aumentado para o lúpus eritematoso sistêmico (SLE). A MBL pode ativar o sistema do complemento tanto através do C4 e do C2 ou diretamente através do C3. Acredita-se que imuno-complexos circulantes (CICs) atuem num papel patogênico no SLE e a MBL tem-se mostrado ligar a certas formas de imunoglobulinas, incluindo IgM, IgG e IgA. Assim, a MBL deve promover a remoção dos CIC. De acordo a avaliar isto, seis indivíduos com a via clássica não funcional, devido a uma rara deficiência de C2 homozigota, foram escolhidos, já que a via clássica é conhecida por ter um papel fundamental na remoção de CIC. Quatros dos seis indivíduos deficientes em C2 tinham SLE, dois deles também tinham deficiência em MBL. Os níveis de MBL no soro e os genótipos foram comparados com os níveis de CICs no soro, como calculado por seu conteúdo de cadeias kappa, lambda, IgM, IgA, IgG e opsonização por C3. Os indivíduos deficientes em C2 tinham níveis de CICs mais altos no soro do que 16 controles saudáveis (P<0,0001). Além disso, uma associação inversa foi observada entre os níveis de MBL e de CIC nos indivíduos deficientes em C2, os quais eram os mais fortes para IgM-CICs (r=0,84, P= 0,037). Além disso, a opsonização dos CICs por C3 correlacionou-se positivamente com os níveis de MBL nos indivíduos deficientes em C2 (r=0,89; P=0,017). Em conclusão, indivíduos com deficiência em C2 tinham níveis aumentados de CICs e a MBL pode facilitar sua remoção. A remoção deficiente de CIC deve explicar parcialmente o risco aumentado para o SLE associado à pouca MBL.

INTRODUÇÃO

A ativação do complemento é uma faca de dois gumes no lúpus eritematoso sistêmico (SLE). Enquanto a ativação do complemento localizada nos tecidos pode ser nociva, o sistema do complemento tem um papel importante na contínua remoção não inflamatória de complexos imunes circulantes (CICs). Isso foi demonstrado em um paciente de SLE deficiente em C2, que por muitos anos mostrou uma melhora clínica consistente e queda nos níveis de CIC após infusões regulares de plasma fresco congelado para re-substituir o C2. Entretanto, a remoção dos CICs mediada pelo complemento ‘in vivo’ tem sido analisada até agora somente no contexto da via clássica, sem tomar em conta a possibilidade de que a via da lectina da ativação do complemento também pode estar envolvida. Pouco se sabe sobre o significado da via da lectina quando outros componentes do sistema complemento estão diminuídos. Ambos o C1q da via clássica e a lectina ligante de manose (MBL) da via da lectina podem ativar o sistema do complemento através de C4 e de C2, porém têm sido mostrado recentemente que a MBL pode também ativar o C3 diretamente. A MBL ativa a via da lectia após a ligação à resíduos de carboidrato na superfície em vários micro-organismos e de componentes próprios desgastados, incluindo fragmentos apoptóticos. A MBL também se há relatada por ligar IgG agactosiladas e complexos de IgG de pacientes com artrite reumatóide (AR) e, além disso, ligar IgAs polimerizadas. Recentemente, a MBL foi mostrada por ligar-se a 20% das glicoformas de IgM. Assim, a MBL deve ter um papel na remoção de CIC. Dependendo da definição, de 10 a 30% dos caucasianos têm deficiência em MBL, que é similar à proporção de indivíduos deficientes em C2 que sofrem de SLE. Nós relatamos recentemente uma associação entre a MBL baixa e o SLE em casos de SLE familiar múltiplo, e a MBL baixa junto com deficiência parcial de C4 pode ter um efeito aditivo no risco para SLE. Notavelmente, o paciente de SLE deficiente em C2 mencionado acima também tem níveis indetectáveis de MBL. Nós fizemos hipótese de que se a MBL está baixa, os CICs podem acumular-se em níveis limitantes que disparam ou aumentam os sintomas do SLE e irrompem. Isso pode sem particularmente importante em indivíduos que também tem uma deficiência de C2 e/ou de C4. Como a via clássica é conhecida por tem um papel fundamental na remoção do CIC, indivíduos com uma via clássica não funcional devido à deficiência de C2 foram escolhidos para avaliar se a MBL também deva ter um papel na remoção de CIC.

RESULTADOS

De acordo a validar o sistema Proceptor TM ELISA, os CICs foram medidos em amostras seriais de soro durante uma infusão de plasma fresco congelado em um paciente com deficiência em ambos C2 e MBL, assim os recosntituindo. Como visto na figura 1, os níveis de CIC no soro neste paciente foram baixadas após as infusões de modo muito similar, como tinha sido reladado previamente após a infusão de plasma fresco congelado no mesmo paciente usando-se outros métodos de detecção de CIC mais ineficientes. Esses sistemas de ensaio, referidos como ensaios de consumo de complemento e ensaio de ligação de imuno-complexos de células vermelhas, foram descritos previamente. Os níveis de CIC nos sujeitos deficientes em C2, e também no paciente após a infusão do plasma medido pelo novo sistema ProceptorTM, foram comparados com os níveis de CIC medidos por estes métodos e mostraram uma correlação muito boa. Os níveis de cadeias kappa e lambda foram considerados por refletirem os níveis totais de CIC. Baseados nesses achados, nós decidimos usar este ensaio simples para a mensuração dos CICs neste estudo.

Os níveis de CICs, como julgados por seus conteúdos de cadeias kappa e lambda e pelos três principais isotipos de imunoglobulinas (IgG, IgM e IgA) em seis indivíduos com uma deficência completa de C2, foram comparados aos seus controles saudáveis. Os pacientes deficientes em C2 tinham níveis mais altos de CICs do que os controles, como julgado tanto pela quantidade de cadeias leves kappa e lambda (P=0,0001 e P<0,0001, respectivamente, Fig 2a,b), quanto por seus conteúdos de IgM, IgG e IgA (P=0,032, P=0,010 e P=0,0065, respectivamente, Fig2c-e). Notavelmente, os dois indivíduos deficientes em C2 que tinham níveis mais altos de CIC de IgG tinham amos SLE. Além disso, dois dos seis indivíduos deficientes em C2 não tinham histórico de infecções recorrentes e eles tinham os níveis mais baixos de CIC de IgM.

Dois dos indivíduos deficientes em C2 também tinham níveis imensos de MBL. Um era o paciente que vinha recebendo infusões de plasma por muitos anos (Fig 1), e ela é homozigota para o alelo da MBL variante estrutural C. O outro paciente era heterozigoto para o alelo da MBL variante estrutural D. Nenhum os dois indivíduos deficientes em C2 que só tiveram infecções tinham baixos níveis de MBL e eles eram ambos homozigotos para os alelos da MBL com estrutura de tipo selvagem. Como a remoção dos CICs da circulação pela via clássica do complemento é largamente bloqueada em indivíduos com deficiência em C2, foi de interesse estudar a associação entre os níveis de MBL e de CICs no contexto da deficiência em C2. Uma associação inversa foi observada entre os níveis de MBL e de CICs (Fig. 3), como detectado por seus conteúdos de cadeias lambda (r=-0,80, P-0,05) e kappa (r=-0,74, P=-0,09). Isso também se aplicou ao conteúdo de IgM do CICs (r=-0,84, P=0,037) e uma tendência similar foi vista para o isotipo IgA (r=-0,72, P=0,1) mas não para IgG (r=-0,32, P=0,5).

A deposição do componente C3 do complemento(C3d) indica uma ativação em curso do complemento. Justificando a noção de que a MBL ajuda a remoção dos CICs, a quantidade relativa de C3 depositado para CICs correlacionou-se com absoluta rigidez com os níveis de MBL nos indivíduos deficientes em C2 (r=0,89, P=0,017 e r= 0,83, P=0,037; Fig.4). Entretanto, a MBL não pôde ser detectada nos CICs capturados pelas placas do Proceptor.

DISCUSSÃO

Para nosso conhecimento, este é o primeiro estudo analisando a MBL em relação aos níveis de CIC, endereçando a questão sobre a possibilidade de a MBL poder, como a via clássica do complemento, ter um papel na remoção de imuno-complexos. Indivíduos com via clássica do complemento não funcional devido à deficiência do complemento foram escolhidos para avaliar o papel da MBL individualmente. Não surpreendentemente, os indivíduos deficientes em C2 tinham níveis de CICs marcadamente mais altos do que os controles saudáveis, iluminando o papel da via clássica do complemento na remoção dos CICs. Entretanto uma associação inversa foi observada entre os níveis de MBL e de CIC no soro deficiente em C2, e isso ficou particularmente evidente para a CICs com alto conteúdo de IgM. Além disso, nós observamos uma associação inversa entre a quantidade relativa de C3 nos níveis de CICs e de MBL em indivíduos com deficiência de C2. Esso está de acordo com o achado recente de que a MBL pode suplantar o C2 pela ativação direta do C3. Tomados juntos, esses achados indicam que a MBL pode ter um papel na remoção dos CICs ao menos em indivíduos deficientes em C2. Isso está de acordo com estudos recentes, onde a MBL foi mostrada por ligar-se a certos isotipos de imunoglobulina ‘in vitro’. Nosso estudo é a primeira tentativa de avaliar o efeito potencial de tais ligações da MBL nos níveis gerais de CICs ‘in vivo’. Entretanto, nós não fomos capazes de detectar a MBL ligada aos CICs nas placas de ProceptorTM. Isso deve ser devido ao obstáculo estérico (estrutural) ou que a ligação da MBL aos CICs foi abaixo do limite de detecção pelo método que nós usamos. Além disso, pode ser imaginado que os CICs com conteúdo relativamente alto de MBL são preferencialmente removidos da circulação. Nós estamos estudando correntemente se a MBL pode ligar-se aos CICs ‘in vitro’ sob condições que imitam o cenário do microambiente o mais próximo possível.

O simples ensaio de detecção de CIC usado correlacionou-se bem com os ensaios mais complexos que foram usados para mensuração dos níveis de CIC. Também distinguiu-se bem entre os pacientes e controles e tem uma utilidade potencial para aplicação de rotina. Assim, alterações nos níveis de CIC no soro durante a infusão de plasma a pacientes deficientes em C2 com SLE medidas com o novo ensaio foram muito similares àquelas medidas anteriormente com ensaios mais complexos. Uma deficiência homozigota de C2 é rara, e esse estudo é baseado em todos os seis indivíduos em Iceland conhecidos por ter deficiência em C2. Entretanto, os resultados são significativos a despeito do pequeno tamanho desse precioso grupo de estudo, e os mesmos mecanismos são passíveis de aplicação também a indivíduos sem deficiência em C2. Concluiu-se que a MBL pode promover a remoção dos CICs in vivo, provavelmente pela via da ativação direta do C3. Baixos níveis de MBL ou genótipos associados foram associados com o risco de SLE em ambos os estudos de família com múltiplos casos e nas meta-análises recentes, e isso deve ser devido parcialmente ao defeito na remoção de CIC. Um teste clínico de fase I de infusão de MBL em voluntários saudáveis está sendo conduzido agora para ambas a MBL purificada e recombinante sem efeitos adversos. Resta por ser elucidado se as infusões de MBL podem ter um papel terapêutico em pacientes com doenças mediadas por imuno-complexos como o SLE.

FONTE: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1868874/?tool=pubmed

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